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Quarentena: sofrimento e ansiedade?

Olá à todos!

Como estão?

Inauguro minha contribuição nesse momento com esse texto. Muitas pessoas como pacientes, amigos, familiares tem me relatado sobre como tem sido sentir ansiedade nesse período de pandemia.

Bom, uma primeira coisa prá se ter em mente é que estamos vivendo um período de profundas transformações políticas, sociais e ecônomicas em curto tempo e não só no Brasil, mas mudanças expressivas no mundo inteiro que nos afetam coletivamente o tempo inteiro.

Um segundo aspecto é que embora a pandemia seja uma realidade maior, as pessoas estão vivendo realidades diferentes dentro dela. Tem pessoas que perderam sua fonte de sustento, tem outros que puderam adaptar o trabalho trazendo-o pro mundo online, alguns outros sempre estiveram online. Tem gente que sequer acredita na seriedade da situação como tem gente perdendo pessoas amadas. Há pessoas lutando por suas vidas com outra condição de saúde (o vírus não espera), sem poder receber visita no hospital, por exemplo.

Por fim, vale refletir de qual realidade o sujeito que sente-se ansioso está falando. E para além do sintomas, será que antes da ansiedade esse sujeito não estava sofrendo?

As pessoas então estão ansiosas ou sofrendo?

Não será prudente dar voz ao que traz sofrimento para então pensar o que se fazer com ele?

Percebamos como muitas vezes excluímos o sofrimento das narrativas que construímos. Você já deve ter em algum momento ouvido uma conversa, em um ambiente como de trabalho nesse formato:

– Oi Fulano, tudo bem?

– Tudo e você?

– Tudo! Ficou sabendo que o Zé foi afastado?

– É o cara não tava bem…parece que começou ficar ansioso, já tinha depressão

– Ahhh, então foi isso!

Na verdade, o que estava acontecendo com Zé?

Será que ele sofreu com alguma coisa ou vem sofrendo?
É isso que quero dizer com excluir das nossas narrativas o sofrimento. É importante também nomear tecnicamente um adoecimento, mas na mesma medida temos nos afastado do significado das coisas . É como se as palavras se tornassem cascas vazias.

Estamos em uma sociedade muito eficaz em se atropelar. O imperativo da polarização parece tornar-se mais forte a cada dia. Nos inundamos de informações e aquelas dúvidas que sustentam uma troca saudável como “mas será que é isso mesmo?” ou “será que é verdade?” tem cada vez menos espaço. Uma reflexão genuína só é construída a partir de questionamentos e a princípio de uma dúvida .

Então proponho para aqueles que desejam cuidar-se ou ajudar a pensar alternativas de cuidado para outros com ansiedade que façam esse trajeto (se puderem) de oferecer uma escuta genuína, para entender do que fala aquela pessoa e como, na medida do possível, enquanto amigo, familiar ou colega, ajudá-la (oferecer ajuda não significa resolver). . Procurar um profissional é bastante relevante, mas vamos ampliar um pouco a reflexão?

Pensando que não haja histórico anterior, para além de ansiosas, têm muitas pessoas em sofrimento psíquico, junto com sofrimento por perderem referências , a vida como conheciam, seu sustento, pessoas amadas, alguma certeza de futuro.

São muitas perdas juntas. A ilusão de ” está tudo bem” ,  podemos produzir à partir da tecnologia, fazer cursos, manter projetos e alguns serviços não anula a realidade que estamos vivendo.

Na verdade, as pessoas estão sofrendo e muito, com todas as perdas que estamos vivendo.

Mesmo quem consegue garantir-se mais estável, também perdeu a vida que conhecia, sua liberdade em movimentar-se, o abraço de alguém querido. Somos humanos, sentimos, fragilizamos, caímos, levantamos.

E estamos de frente para um tipo de situação que em 100 anos não ocorria. Única também porque é acompanhada de um desenvolvimento industrial e tecnológico que não fez parte de outros momentos históricos.

Se hoje com todas as circustâncias não podemos legitimar as dores que são sentidas frente à uma pandemia em 2020 quando vamos?

Até a próxima!

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alida

Psicóloga clínica (Mackenzie) e hospitalar (HCFMUSP). Atendimento à crianças, adolescentes e adultos. Apaixonada por psicanálise, por psicossomática e por ajudar as pessoas a encontrarem sentidos na vida. Experiência em torno de demandas ligadas ao processo de adoecimento/hospitalização, depressão, ansiedade, traumas, luto, questões de identidade étnica, LGBTs e relacionamentos. Atendimentos presenciais e online em São Paulo.

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