Sufocado pelo próprio sentimento – Parte 3

A pior parte, ou meu principal erro, foi guardar tudo silenciosamente. Nunca me abri para ninguém, salvo para uma psicóloga por duas sessões. O silêncio sobre os meus sentimentos me adoeceu, às vezes perco a fome, tenho dificuldade para dormir, em crises mais agudas, meus pensamentos aceleram e se pisoteiam, meus pés vivem frios, aperto no peito, que ultimamente tem sentido uma espécie de fervor. A psicóloga disse que eu deveria me afastar, na época eu concordei, mas não coloquei em prática, por medo do vazio. Não era só me afastar dela, mas dos poucos amigos que tenho. Me envergonho muito disto: eles saberão do que sinto por ela de forma torpe. Ao passo que sei que não cometi nenhum crime, não magoei ninguém nem ofendi, ainda assim carrego um peso na consciência. Parece que fiz algo que não deveria ter feito: ter me apaixonado por ela e pior ainda não ter desapegado durante todos esses anos. Isso me envergonha muito. É como se eu reprovasse minha maneira de ser e sentir o que sinto. Eu carrego o peso não só do sentimento reprimido, mas da minha personalidade romântica (não uso o adjetivo romântica como algo positivo nesse caso). Entrei em um beco sem saída. O silêncio cobrou seu preço que é justamente ter que me abrir de uma vez.