Ansiedade

Há um leão que não vive nas florestas nem nas savanas. Ele vive em mim. Não
ruge para assustar, mas respira fundo, como quem carrega o peso de mil
silêncios. Ele não aparece de repente — ele se aproxima devagar, com passos de sombra, até que sua presença se confunde com a minha própria existência.

A depressão é esseleão. Uma fera invisível que se deita ao lado da cama antes mesmo que o dia comece. Ela não grita, mas sussurra. Sussurra que levantar é
inútil, que tentar é em vão, que viver é um esforço sem sentido. E, aos poucos, o mundo perde a cor, os sons se tornam distantes, e o tempo se arrasta como se estivesse preso em areia movediça.

Esse leão não morde de uma vez. Ele espera. Espera que eu me canse de lutar,
que eu me esqueça de quem sou, que eu aceite o vazio como lar. Ele se alimenta da minha desistência, cresce com cada lágrima não chorada, com cada palavra
engolida, com cada sonho abandonado.
Mas há algo que ele não entende: mesmo ferido, ainda respiro. Mesmo caído,
ainda penso. E no fundo da caverna onde ele ruge, há uma centelha que ele não pode apagar — a consciência de que sentir dor é também prova de que ainda
estou vivo. E enquanto houver vida, há possibilidade de retorno.
Superar esse leão não é vencê-lo em combate. É aprender a caminhar com ele aolado, sem permitir que ele dite o rumo. É olhar nos olhos da fera e dizer: “Você
pode me seguir, mas não me define.” Porque há uma força que o leão teme — a coragem silenciosa de quem, mesmo em pedaços, escolhe continuar.