Luto… luta

Ela perdeu os pais e vivia deprimida. De um jeito diferente, escondido, sorrateiro. Eram risadas e mais risadas, fingia suportar a música alegre e as pessoas falantes. Deixava sempre um sorriso escapando, tiradas inteligentes e amigos de verdade. Ela vivia acompanhada. Mas sua vida era só. No duro, não contava, e nem conseguia, contar com ninguém. Seus pais se foram. Foi um modo abrupto. Mas não foi. Todos sabiam que aconteceria logo, exceto ela. Ela lutava pra salvar a sua família, suas companhias, seus amigos de sangue, seus amores, sonhadores. Ela era a aposta de companhia eterna, ou pelo menos até que a morte os separassem, e os separou. Tem sido sofrido pra ela, ela não aceita, não se conforma, não se deixa viver de novo. Ela apenas passa os dias, e olha que são longos. Prefere os dias em que chora, porque esses dias seu peito parece exaurido, perde as energias e ela apaga, antes mesmo de anoitecer. E assim ela passa, os dias passam, os tédios passam, a vida. Ela é jovem, mas nem parece. Ela é triste, mas nem parece. Ela é bela, mas nem parece. Ela se ama, mas nem sabe mais se dá. Quando o desespero bate, ela, aflita, frita por dentro, se debate no peito, mas nem parece… Seu olhar é sereno, apático, é de morte. Não é saudade que ela sente, é medo. Porque não tem dor maior que te-los perdido e perdido, e agora mais nada a perder. Ou a ganhar.