Sou grata por tudo o que tenho, e reconheço que sou uma pessoa extremamente privilegiada. Eu tenho a oportunidade de estudar, eu moro em um apartamento bonito e confortável, eu fiz uma viagem à Itália, eu tenho muita saúde, eu sou bonita e meu pai faz de tudo por mim. Entretanto, eu nunca consigo deixar de me sentir dolorosamente sozinha, mesmo que esteja rodeada de pessoas. Não só isso, mas muitas vezes eu não vejo sentido em estar viva.
E sim, eu sei que a vida não é mesmo para ter sentido. Só que, às vezes, eu queria dar um fim à minha. E isso é irônico porque eu tenho muito, muito, muito medo de morrer. E eu sei que, talvez, eu possa ter um futuro brilhante pela frente. Mas muitas vezes eu só queria ter coragem de por um fim à minha vida.
Atualmente, eu sei que muitas pessoas ficariam tristes com a minha partida. Mas, sinceramente, eu não acho que faço muita diferença na vida de ninguém. Por exemplo, eu tenho plena certeza de que no momento elas sentiriam a minha falta, mas seguiriam bem com as suas vidas depois disso. E é claro, como qualquer ser humano normal faria.
E não é sobre querer que as pessoas sintam a minha falta após a minha morte; é sobre sentir que eu não faço falta pra ninguém em vida.
E eu não vou me matar. Como eu disse, eu sou covarde pra isso e, também, sinto culpa por ser ingrata aos privilégios que eu tenho.
São várias coisas que vêm me incomodando recentemente. A começar pela minha mãe: quanto mais eu reflito, mais eu percebo que ela nunca gostou de mim de verdade. Talvez até tenha gostado um pouco quando eu era criança, mas, também, sempre havia algum interesse por trás. Agora, não sou nem mais maltratada: ela só me ignora sem motivo nenhum. Além disso, também sinto falta dos meus cachorros, que moram com ela.
Meu irmão, bem, meu irmão faleceu. E nós não tocamos mais nesse assunto hoje em dia com muita frequência (ainda bem). Eu sinto falta dele. Ele era uma pessoa amorosa e inteligente, e também me ensinou a jogar videogame (um dos meus hobbies favoritos). Ele merecia uma vida melhor; como a que eu tenho agora e não valorizo como deveria, por exemplo.
Sobre as minhas irmãs:
A Bianca costumava ser a minha melhor amiga. Nós crescemos juntas como amigas e muitas vezes ela também teve que exercer um papel de mãe na minha vida também. Não que eu não goste da minha irmã Mayme, mas a Bianca era uma companhia melhor devido, talvez, à nossa pouca diferença de idade. Hoje em dia, nós temos uma relação mediana, e eu acho que isso me magoa um pouco.
Moramos juntas. Ela trabalha, eu estudo. Conversamos até que de forma razoável hoje em dia. Embora ela diga o contrário, a prioridade dela hoje em dia é o namorado. Os assuntos vem me cansando ultimamente. Durante a viagem, ela foi grossa comigo diversas vezes e, como sempre, sua atenção era praticamente que 100% voltada ao namorado. Comigo era, “tá tudo bem?” e só. Quando não era isso, era assuntos de lingerie (que sinceramente, eu estou pouquíssimo interessada) ou brevemente algo aleatório sobre as nossas irmãs ou nosso pai. Saímos um dia só
juntas durante a viagem e, mesmo assim, ela ligou para o namorado umas 3 vezes no caminho. E também, só vem falando dele ultimamente. Uma coisa que também me incomodou foi eles começarem a ter intimidades no mesmo apartamento em que estávamos hospedadas, sendo que ele tinha o dele. Mas isso eu disse à ela, e ela disse que estavam só dando “uns beijinhos”. Ah, tá. Dentro do banheiro? Já não basta eles fazerem a mesma coisa quando estamos no Brasil?
Sei que pode parecer infantil da minha parte, mas eu sinto que eu realmente não sou obrigada a aturar certas coisas. Quem em sã consciência não se incomodaria com uma pessoa ficando na sua casa de quinta-feira à domingo? E eu já discuti isso com ela diversas vezes. “Mas Nicole, eu tenho medo de magoar ele…”. E eu simplesmente me cansei de falar, entende? Mas não deixa de me incomodar. E eu sei que sou imatura, mas eu duvido que ela não se sentiria do mesmo modo se estivesse no meu lugar. Entretanto, considerando essa viagem à Itália e outras situações, eu acho que deveria me afastar um pouco dela. Porque vem me fazendo mal. Não sei se pode ser alguma dependência emocional porque, como eu disse, ela era a minha melhor amiga, mas… Não sei.
Sobre amizades: eu nunca tive muitas, e eu não ligo. Eu acho que tenho dois amigos que gostam de mim de verdade, mas eu mal os vejo. Às vezes, eu sinto que deveria investir mais em amizades, mas eu não encontro pessoas com quem eu me identifique.
Meu pai: ele provavelmente me ama muito, mas diz coisas que também me magoam muito às vezes. Não sei se a minha companhia faz alguma diferença na vida dele; nos vemos por algumas horas em um dia da semana e só. E desde que eu era pequena sempre foi assim. Mas eu vejo ele como uma pessoa bem resolvida; ele está feliz contanto que eu esteja saudável e confortável.
Sobre mim: eu queria ser uma pessoa mais disciplinada. Ir à academia todos os dias, estudar por horas, fazer todas as minhas atividades de modo certinho para que eu não fique sobrecarregada depois. E eu sigo falhando nesses aspectos, porque às vezes eu procrastino e quero desistir de tudo. Enfim, eu sinto que tudo está uma falha total. E a culpa deve ser minha, do modo como eu me sinto em relação às coisas. Porque eu simplesmente preciso me acostumar ao fato de que a minha companhia é a única que eu sempre vou ter, e parar de me magoar com isso. Mas como eu faço isso? Qual é o meu problema? Sinceramente, eu queria saber. Porque eu não gosto de me sentir assim, eu não quero me sentir assim e eu sempre me sinto assim. Sempre.
Eu sinto falta da minha mãe.
Eu sinto falta dos meus cachorros (e não consigo pegar um pela falta de tempo). Eu sinto falta da minha antiga relação com a Bianca.
Um grupo de apoio emocional e saúde mental. Desabafos anônimos, troca de experiências e apoio psicológico.
Não sei se esta mensagem chegará ao seu alcance, mas espero que ainda esteja tudo bem até lá. Eu simpatizo com o seu relato, mas gostaria de conversar, caso deseje. Vamos lá? E não kk, eu não sou um profissional, só alguém preocupado procurando boas amizades também. 51 99324-6981.