Minha história é um pouco longa, mas vou tentar resumir.
Eu cresci em uma família totalmente desequilibrada. Quando eu era bebê, sem consciência do meu redor, meu pai bebia esporadicamente, mas isso já era suficiente para ele maltratar minha mãe com palavras e até mesmo de forma física.
Quando eu cresci, e tinha por volta de 6 anos, eu percebia que minha mãe ficava um pouco triste as vezes, mas não comentava nada.
Mas foi ali na minha fase dos 8 aos 10 anos que tudo começou a piorar. Com um pouco mais de consciência, eu já sabia quando meu pai saia para beber, acontecia em alguns finais de semana específicos e ficavam eu e minha mãe em casa. Quando chegava, ele discutia e brigava com ela, mas eu meio que tentava ficar entre os dois para que não acontecesse uma agressão física, mesmo que as palavras que ele dizia ferissem muito.
Uma cena bem marcante da minha infância, diria que até um pouco boba, foi uma vez em que ele saiu e eu fiquei em casa com minha mãe. Estava passando um flime do bob esponja em um horário bem tarde no SBT. Quanto mais tempo decorria do filme, mais eu sabia que tava ficando tarde. Aquilo era uma tortura pra mim. E isso me marcou até hoje. Não consigo assistir mais esse filme sem ter lembranças ruins e, por vezes, chorar.
Nesse tempo eu inventava que estava doente para eles pararem de brigar. Dor de cabeça, dor de ouvido... Sempre pensava em algo que pudesse amenizar o conflito.
Eu nunca saí muito de casa, cresci assim. Então, basicamente, o único lugar em que eu ficava era na escola. Da escola, pra casa. De casa, pra escola.
O ambiente escolar sempre foi um "refúgio" pra mim. Era lá que eu via meus únicos amigos e conversava com meus professores. Eu me sentia realmente bem. É tanto que sempre busquei fazer várias atividades extracurriculares para poder ficar o máximo de tempo por lá. Mas eu sempre temia a hora que eu chegasse em casa. Eu temia chegar em casa e encontrar meus pais brigando. Temia chegar em casa e encontrar minha mãe agredida. Temia chegar em casa e descobrir que meu pai tinha saído para beber.
Eu cresci meio que sem esse apoio familiar dos meus pais. Raramente contava minhas coisas a eles.
Chegou um tempo em que eu via eles simplesmente como alguém que me dava dinheiro e assinava documentos para mim, mas era como se não sentisse quase nada por eles (afetivamente falando).
Meu pai era do tipo super opressor e possessivo. Não permitia que minha mãe saísse de casa para ir, por exemplo, para uma missa, pois, segundo ele, ela estaria indo encontrar homens. Minha mãe também foi muito prendada, ela fazia bolos, salgados e comidas variadas para vender, mas até isso ele proibiu.
Enfim. O tempo passou, e eu cheguei na faixa dos meus 15 anos. Comecei meu ensino médio e a frequência com que meu pai bebia passou a ser todo dia. Não preciso nem dizer que a taxa de conflitos também aumentou. Agora, porém, eu já não era mais um garotinho. E foi aí que as coisas começaram a piorar. Ele já tentou me matar algumas vezes com faca, já me agrediu diversas vezes, mas eu nunca permiti que ele agredisse minha mãe. Não fisicamente, porque mentalmente eu tinha certeza que ela ficava destruída.
1 mês atrás meu avô paterno veio morar com a gente por estar doente, o que freou um pouco as atitudes agressivas dele, mas isso não durou muito tempo.
Aí vocês se perguntam, por que minha mãe nunca saiu de casa se ela sofria tudo isso? Bom. Ela ganha bem pouco. Moramos em uma cidade pequena (pouco mais de 12 mil habitantes), e a única fonte de renda dela, era o dinheiro que ela ganhava lavando e engomando roupas. Ela se senti frágil, se saísse de casa não ia ter como se sustentar...
Mas essa semana, ela saiu. Ela foi morar com minha irmã, em um apartamentinho alugado. Fico feliz que finalmente ela possa estar "livre". Eu resolvi ficar com meu pai, não porque ele é o melhor, mas sim porque só ele conseguiria me "financiar" nesse momento (em relação aos meus estudos). Ele chorou muito desde que ela foi embora. Ele não dormiu desde então e não comeu nada, apenas se sustenta na bebida. Ele me pede constantemente para ligar para minha mãe (ele não sabe manusear aparelhos tecnológicos). Enfim, a situação aqui em casa tá um caos... Sem ninguém para fazer tarefas domésticas como varrer, lavar roupa e cozinhar. De dia eu estudo, de noite eu trabalho e chego super cansado em casa. Esse vai ser meu primeiro final de semana "sozinho" em casa, vou tentar organizar tudo.
Enfim. Esse é meu último ano do ensino médio. Me sinto muito angustiado e acabo pensando no que vai ser meu futuro... Eu pretendia ir fazer minha faculdade na capital, mas, sinceramente, fico pensando nas chances disso acontecer agora. Tá tudo muito incerto.
Eu tenho a mentalidade de que tudo passa, sei que isso é temporário. Já passei por um problema enorme do qual eu achei que nunca iria superar, mas deu tudo certo, depois de um tempo.
Escrevo isso aqui mais para desabafar e, quem sabe, receber um conselho.
Se você leu até aqui, o meu muito obrigado. Espero que mande boas vibrações para mim. <3
3 comentários em “Perspectivas de futuro em um ambiente conflituoso”