Qual o impacto da morte de um dependente químico na vida de seus familiares e amigos?
Uma das mais difíceis experiências emocionais do ser humano se dá diante da impotência e do enfrentamento da morte de um familiar. Comportamentos de raiva e de negação da morte, são reações comuns diante do impacto emocional e físico deste evento na vida das pessoas.
O familiar pode apresentar variações de humor diante do evento traumático e precisará elaborar, ou melhor, resolver este conflito interno com o tempo. A sintomatologia inicial deste processo de elaboração do luto pode evoluir para um quadro de agravamento, podendo surgir o negligenciamento do auto cuidado, desmotivação, depressão, abuso no consumo de álcool e outras drogas, ideações suicidas e o uso irregular de medicamentos para dormir. Sintomas como estes são indícios que exigem uma maior preocupação quanto ao quadro psicológico e emocional do familiar e demandam uma atenção maior.
O impacto dos sentimentos que podem resultar em comportamentos disfuncionais do indivíduo, dependerá, e muito, da capacidade de superação da dor diante do enfrentamento desta imposição da realidade. Vivenciar este intenso estresse emocional mediante o óbito de um dependente químico que estava inserido no contexto do familiar exige dos parentes, e dos amigos mais próximos, a presença de recursos emocionais que sejam capazes de dar sustentação ao sofrimento causado pela perda.
A intensidade da dor emocional e psicológica como também a duração de tempo da reação comportamental deve ser bem avaliada para que se determine a melhor forma de acompanhamento do caso. Importante ressaltar que, se a perda for de uma pessoa mais jovem, como adolescentes e crianças envolvidas com esta problemática das drogas, a comoção acaba sendo maior e isto também é um forte fator que pode influenciar na potencialização dos prejuízos psicológicos causados às famílias.
O suporte aos familiares é de extrema importância neste momento de luto. A disponibilização de todas as formas de apoio, incluindo o acompanhamento médico e psicológico, ajuda na prevenção dos agravos à saúde física e mental de todos os envolvidos neste processo de perda e cada membro da família vai elaborar de forma muito particular todo este processo de dor. O processo saudável de elaboração do luto pode acontecer no intervalo de tempo entre 6 meses a 2 anos. Se neste período o trauma do evento não for bem trabalhado as pessoas que sofreram com esta situação podem desenvolver o luto patológico, o qual trará imensos prejuízos a qualidade de vida do indivíduo.
Sendo assim o suporte de profissionais da saúde mental é essencial para minimizar os impactos negativos causados na vida de todos os envolvidos nesta tragédia humana, que é a perda da vida de um membro da família devido aos problemas relacionados com a doença da dependência química. O apoio dos amigos e demais familiares é fundamental neste momento difícil do luto ajudando a atenuar o sofrimento por ser uma forma de demonstração de acolhimento da dor de quem fica. Sentir-se compreendido em sua demanda, na sua dor, permite à pessoa se sentir melhor emocionalmente e assim também reproduzir um efeito positivo na sua recuperação.
Caso não exista este suporte a pessoa pode não ter estrutura emocional capaz de suportar a perda e isto que pode acarretar uma piora do quadro clínico, agravando ainda mais o estado emocional da pessoa. A compreensão da saúde mental do indivíduo precisa ser cada vez mais ampliada para os aspectos que integram o ser humano, ou seja, uma visão biopsicossocial e espiritual e com a oportunidade dada neste espaço, podendo falar mais sobre os temas relacionados a saúde mental, temos uma excelente oportunidade de falar para os leitores que nem sempre vamos conseguir superar sozinhos os problemas e episódios ruins em nossas vidas e admitir isto para nós mesmos será tão libertador quanto saudável.
Um forte abraço
Ivanildo de Andrade
Psicólogo Clínico
Especialista em Saúde Pública