Quem sou eu?
Responder essa pergunta sempre foi muito desconfortável pra mim. Como eu poderia responder?
Segunda filha do primeiro casamento de meus pais, me mudei com minha mãe e minha irmã 2 anos mais velha, da minha cidade natal para São Paulo aos 7 anos. Numa nova cidade, até certa idade era a “Filha da Vanda” pelos conhecidos (graças a meu nome difícil de memorizar). Nossa vida foi cheia de mudanças, a cada 6 meses ou 1 ano mudava de casa, de bairro, de escola. O ambiente mais prolongadamente familiar foi a igreja que frequentávamos, que embora mudasse o local mantínhamos contato com as mesmas pessoas.
No início da adolescência grudei em minha irmã, que já podia sair de casa sozinha às vezes e amava estar com os amigos dela. Passei a ser a “Irmã da Sabrina” na maioria dos lugares que passava. Era confortável não precisar dar o primeiro passo para fazer amizades – e os próximos passos para mantê-las – mas tão logo o cenário mudava, lá estava eu “sozinha” e isso realmente me incomodava… ficando mais claro por volta dos 15 anos.
Finalmente estávamos morando em um endereço há mais de um ano, entrei numa escola pela primeira vez sem minha irmã, e todos os alunos eram novos por lá já que era só de Ensino Médio. Era incrível a sensação de não ter chegado atrasada na vida, na rabeira de alguém. Eu podia ser quem EU quisesse.
Conheci amigos, dei primeiros passos e vários outros, convivi entre altos e baixos, fui de melhor aluna a quase expulsa, e melhor aluna de novo, a rebeldia não ficou apenas na escola… da filha que aceitava tudo passei a ser exigente, queria amor, compreensão e confiança – nem que precisasse gritar ou fugir de casa pra demonstrar minha MATURIDADE. Minhas AMIZADES não resistiam à prova do TEMPO e eu não entendia o porquê.
Minha mãe, com amor e resiliência – com grande apego a sua fé – fazia o melhor que podia, sempre, e agora com o apoio do meu pai postiço.
Eu, cheia de mim, fui seguindo a vida a meu modo, fazendo minhas escolhas. Reencontrei meu amor platônico da infância e começamos a namorar. Casamos! E eu, cheia de mim, passei a ser a “Mulher do Rafa”.
Eu entendia, ele era músico, mais conhecido, com um nome tão fácil de lembrar, e estávamos em um contexto religioso onde ele era líder. Mas sim, aquilo me incomodava.
Quando meu primeiro filho nasceu, escolhemos com gosto seu nome: Miguel! Pensei em tudo: que apelidos poderia ter, se combinaria em todas as fases da vida, e até como seriam as broncas (em 2007 ainda não era muito comum pra crianças). Ele nasceu e lá estava aquela pulseira, escrita com letras maiúsculas: RN de MONIQUE R B LIMA
Uau! Aquilo soou tão forte! Eu comecei a pensar como eu, que não tinha a menor noção da minha própria identidade, iria apoiar aquele serzinho na construção da sua. E eu fui buscar minha identidade: livros, pessoas, conversas – mas o foco estava em moldar uma identidade pra mim, algo que eu gostaria de ser – nada que passasse muito longe da perfeição. Eu PRECISAVA ser PERFEITA!
Em meio a essa busca errônea foram muitas feridas a mim e a outros. Exigências. Amputações.
O sonho de ser psicóloga já existia desde o Ensino Médio quando tive contato com a psicologia exatamente numa fase de crise existencial e finalmente aos 27 anos comecei minha FORMAÇÃO ACADÊMICA.
Outra base essencial, minha fé, não era totalmente minha “escolha” e era fácil responsabilizar quem não me ENSINOU DIREITO.
As descobertas e a desconstruções foram constantemente intensas. E tem sido. Tanta coisa mudou, se transformou, se fortaleceu, se enfraqueceu – não, isso não é ruim!
Além do tempo em si, da formação e da experiência, eu fui aprendendo a não mais buscar no exterior a FÉ e o meu modelo de IDENTIDADE perfeito, mas olhando para mim, meus sentimentos, emoções, necessidades diante das mais variadas situações, fui me conhecendo. E com outra intenção me dei a CONHECER também o outro, os outros. Tenho aprendido a olhar para meus padrões e julgamentos – sim, eles estão sempre lá – e não agir a partir deles. E eu sou grata pelo que ainda tenho a aprender, a criar, conhecer e conectar.
Hoje o Miguel tem 13 anos. Essa semana pude ouvir num momento cotidiano ensinando a colaborar com as tarefas de casa: “Mãe, eu te amo por isso. Você não enxerga com os olhos, mas com o coração”.
Hoje respondo com mais tranquilidade a pergunta inicial. Quem sou eu? Sou MONIQUE! E isso quer dizer muito pra mim. Não tenho mais medo das perguntas que virão depois.
Vamos nos conhecer? QUEM É VOCÊ?
Que texto lindo. Chorei!
Que bom tocar seu coração dividindo minha jornada 🌷
Obrigada