Meu maior pesadelo

Confesso que jamais imaginei um dia passar pelo que estou passando, nem em mil anos pensaria que poderia acontecer tudo que aconteceu e da forma que aconteceu. E é com muita dor que lhe escrevo.

Eu sempre tive muitos problemas para me relacionar com outras pessoas sabe, era introvertido, cheio de inseguranças e baixa autoestima, mesmo assim conseguia me sair relativamente bem em outras áreas da vida como trabalho e estudo. Sempre me senti muito solitário e angustiado por não conseguir me relacionar com ninguém.
Bom, a alguns anos conheci uma garota e a gente se deu muito bem pois tínhamos muitos gostos em comum, não demorou muito para isso evoluir para uma amizade forte e depois para um namoro. Essa garota era de outro estado e nós nos víamos poucas vezes ao ano, passávamos as férias juntos normalmente, essa situação criou em nós uma vontade grande de morarmos juntos e assim aconteceu.
Durante 2 anos vivemos juntos e foi um período fantástico, estávamos felizes e eu me senti plenamente realizado, até onde me consta tudo estava indo muito bem, estávamos fazendo muitos planos, empolgados com as possibilidades. Pela primeira vez na vida eu me sentia realizado, tinha planos e ela era o meu mundo, tudo que eu planejava e decidia envolvia ela. Nosso relacionamento era tão diferente que eu até me gabava um pouco do quanto nos relacionávamos bem, quase não brigávamos e quando tínhamos qualquer discussão resolvíamos rápido, sempre tentamos não dormir com raiva um do outro e quase sempre conseguíamos, eramos bem racionais e sinceros um com o outro.
Nem tudo era um mar de rosas, ela sempre teve alguns problemas com depressão (desde antes de morarmos juntos), traumas que ela trazia da infância e etc. A alguns meses ela ficou realmente ruim, ao ponto de pedir ajuda, então procuramos um psicólogo imediatamente. Isso foi muito bom, Ela estava progredindo, mas a psicóloga disse que notava nela alguns traços de problemas mais graves e que era necessário buscar um psiquiatra para diagnóstico mais preciso. Procuramos um no mês passado e ele receitou alguns remédios para ela, esses remédios foram muito bons durante aquele mês, fez ela ficar superempolgada, feliz e criativa, tava voando baixo sabe, algo que me deixava maravilhado. Encerramos o ano passado nas nuvens, tudo encaminhado parecia que nada podia nos atrapalhar mais, tínhamos planos bem definidos para o futuro e tudo mais.
Daí, um belo dia, acordei normal e talz, a gente tava bem, mas eu resolvi dar uma olhada no celular dela para ver uma coisa (um péssimo hábito que eu tinha e que estava até trabalhando para acabar) e acabei descobrindo uma traição (mensagens de texto de conteúdo sexual com um suposto amigo de infância dela). Pois é, nem eu e nem ninguém nunca imaginaria algo como aquilo, fui pego totalmente de surpresa. Nem em mil anos imaginaria que ela faria aquilo, ainda mais por não demonstrar nenhum tipo de insatisfação ou qualquer coisa do tipo durante nossa relação, pelo contrário ela sempre falava sobre o quanto me amava e o quanto estava empolgada para os nossos planos juntos. Mas então, a traição foi algo chocante, mas esse nem é o ponto alto da história… É importante citar que nos dias anteriores a traição ela estava apresentando uma instabilidade no humor e também quadros de ansiedade e insônia, por recomendação da psicóloga nós já tínhamos marcado uma nova consulta com um psiquiatra. De fato ela estava a 3 dias sem dormir significantemente.
Voltando ao momento da descoberta, obviamente tivemos uma discussão e eu em um surto de raiva quebrei o celular dela (foi o único ato “violento” que aconteceu em toda a história), deixo claro que em nenhum momento eu encostei nela ou a ameacei de qualquer forma (até pq mesmo estando cheio de raiva e mágoa, eu a amava e eu não sou uma pessoa violenta por natureza). Durante nossa discussão ela admitiu a traição, a vontade e que era tudo que eu estava imaginando mesmo. Disse para ela que naquele dia mesmo ela voltaria para a casa da mãe, que eu ia garantir tudo que fosse necessário para ela chegar bem e em segurança na casa da mãe e que nunca mais nos falaríamos depois disso. Liguei para a mãe dela e expliquei toda essa situação, a mãe não gostou do fato de eu ter quebrado o celular dela, então concordei em comprar um novo para elas se comunicarem durante a viagem. Ela arrumou as coisas e nós saímos, eu notei que ela estava fria e distante, não demonstrava qualquer remorso ou arrependimento, fomos até um hipermercado comprar o celular antes de levar ela ao aeroporto, chegando lá ela começou a apresentar comportamentos estranhos, de choro e riso, mas achei q era só a forma dela lidar com a situação, não dei muita bola. Quando entramos no mercado eu tive uma surpresa, ela teve um tipo de surto e ficou completamente fora de si, saiu correndo pelo mercado e desapareceu, eu fiquei louco procurando ela, com medo de algo ruim acontecer, precisei da ajuda da equipe do mercado pra achar ela. Quando finalmente a encontrei, ela estava visivelmente fora de si, falando nada com nada e sem reconhecer nem o local onde estava. Liguei para a psicóloga dela que me disse q ela estava completamente surtada e precisava de ajuda médica imediata, as pessoas do mercado me ajudaram a acalmar ela e então nós fomos a psiquiatra que constatou o problema dela. A psiquiatra explicou que ela teve um surto psicótico muito grave e que ela sofria de bipolaridade, que não poderia ficar sozinha e que talvez fosse caso de internação, mas que se por acaso ela não apresentasse nenhum risco para ela mesma ou para outros, poderia ficar em casa. A médica receitou alguns medicamentos e pediu para ver ela novamente em uma semana. No meio disso tudo eu obviamente não poderia colocar ela em um avião sozinha, eu me vi numa situação aonde teria que ficar mais algum tempo com ela. Comuniquei a mãe dela da situação e ela se prostrou a vir buscar a filha, mas que precisaria de 1 semana para conseguir vir, eu disse que cuidaria dela nesse período e que iriamos nos comunicando até ela chegar (até pq ela precisaria de toda forma da autorização médica para viajar). Nesse momento começou a semana mais difícil da minha vida, eu estava completamente assustado e transtornado com tudo que aconteceu naquele dia, foi muita informação de uma vez só, eu nunca tinha visto nada como aquilo antes e agora me encontrava numa posição aonde estava de coração partido mas não podia viver isso, pois precisava cuidar dela, eu era tudo que ela tinha naquele momento e eu precisava manter minha empatia e meu amor por ela, enquanto ela se recuperava.
A medida que ela tomava o remédio e se passavam os dias, ela ia melhorando, recobrando as funções normais e etc, no entanto ela apresentava uma personalidade totalmente diferente da que eu conhecia, ela era grosseira e sem nenhuma empatia comigo, parecia até que me odiava, mas em alguns momentos ela ficava calma e amorosa e se comportava como se nada tivesse acontecido, me chamando de “amor” e me tratando com carinho. Isso era um inferno pra mim, pois minha cabeça estava terrivelmente perturbada com tudo que estava acontecendo, mas eu tentava segurar a onda o quanto podia. A medida que ela recobrava sua consciência uma coisa era bem clara, ela queria ir embora e não me via mais como um parceiro. Eu sabia que tudo tinha acabado de vez e que não teria volta, mas era muito difícil lidar com aquilo, com ela me tratando de formas tão estranhas e eu não podia sair de perto dela nem por um segundo, então dormíamos juntos, comíamos juntos e eu acompanhava ela nos lugares, naquela semana não trabalhei, dediquei só a cuidar dela. Paguei pelos exames, consultas e remédios que ela tomou (a mãe dela chegou a mandar uma ajuda, mas o grosso fui eu mesmo que paguei mas isso não importa), me sentia preso com um fantasma, alguém que não era mais minha parceira mas que eu ainda tinha que cuidar e etc. Eu tinha meus próprios complexos, minhas inseguranças, minha raiva, minha angústia, meus medos e tudo mais, mas eu não podia viver eles naquele momento. Foi realmente um pesadelo para a minha cabeça (que convenhamos, não era lá das mais saudáveis desde o início).
Quando finalmente a mãe dela chegou eu senti um alívio, finalmente teria alguém para me ajudar, ela fez o retorno da psiquiatra que constatou que ela estava bem melhor, mas que ainda teria uma longa jornada pela frente, mas estava liberada para partir se quisesse. Elas se preparam para ir mas precisaram de alguns dias ainda para se organizarem, eu acolhi as duas e dei todo suporte que precisaram, inclusive me ofereci para pagar a nova leva de remédios que ela precisava e também a próxima consulta psiquiátrica dela. Elas partiram a uma semana e depois disso não mantive mais contato com ela, pois estou passando pelo meu luto. A mãe dela até hoje é grata por tudo que eu fiz e mantivemos uma boa relação.
Antes de partir ela (a minha companheira) me disse algumas coisas que só me deixaram mais confuso, disse que me amava, que amou a nossa vida juntos e que sentiria muita saudade de tudo, que se arrependia de tudo que aconteceu e que queria ter ficado, mas que precisava ir, pois ela acredita que a vida dela não é mais comigo. Ela até queria manter contato e tudo mais, mas não acho que isso seja saudável.
Depois de tudo isso eu fiquei destruído, eu estava feliz e tinha uma mulher que me amava, do nada tudo acabou, sem nenhum tipo de aviso. Agora eu me sinto humilhado, abandonado, desiludido, desesperançoso e completamente solitário. Estou fazendo acompanhamento com psicólogo, mas eu me sinto perdido, tudo isso me afetou demais e não sei por onde recomeçar.
Até agora eu não sei muito bem o que aconteceu, não tenho respostas claras de onde as coisas deram errado e o que de fato ela sente ou sentiu por mim.

Desculpe por qualquer erro, eu não revisei o texto e foi bem difícil escrever ele, então nem quis ler novamente.