Quando eu era criança, era uma ratinha de biblioteca, eu amava ler. Como eu lia muito, eu escrevia muito. Sabia me expressar muito bem. Escrevia poesias, histórias, letras de músicas. Tinha facilidade para tirar músicas em violão e teclado só com o ouvido. Inventava vários nomes para personagens e atores e criava um ''crédito de filme'' e ali no meio eu escrevia meu nome, só pra vê-lo subir com os créditos, sonhando em um dia fazer produções de filmes, clipes, enfim... Adorava estudar idiomas, queria escrever um livro...
Alguma coisa aconteceu, pois toda a lembrança que tenho da minha adolescência e até meus 24 anos são comigo perdendo o dia todo deitada no sofá vendo filme, ou mexendo no celular. Achava que o tempo não passaria e de repente me vejo com 28 anos, sem hábito nenhum de leitura, com um vocabulário pobríssimo, sem saber nem conversar direito. Tudo o que começo eu largo. Já comecei aula de violão, bateria... larguei tudo. Terminar um livro dura quase um ano inteiro, não consigo escrever nem uma frase de poesia. Sinto que emburreci, sinto que minha mente atrofiou. Comecei a pintar telas, mas logo me sinto desanimada pois preciso ganhar dinheiro e não vejo muita gente comprando telas. Logo, parei de pintar.
E hoje o que faço? Meu contrato temporário está acabando e eu não sei fazer nada. Parei no tempo. Larguei faculdade e as coisas que começo a estudar, logo perco o gás pois não sei o que fazer com esse conhecimento, não tenho propósito, nem objetivos.
Se eu me imaginasse com 28 anos na época, eu saberia dançar vários estilos, saberia tocar vários instrumentos, saberia pelo menos uns 3 idiomas, saberia pintar, editar...
Sempre me imaginei inteligente, completa, satisfeita. Criativa.
Sempre tive medo de viver a vida toda presa num escritório fazendo alguma empresa qualquer crescer, só porque foi isso que achei.
E agora meu contrato se encerra e eu não me sinto preparada nem para entrar num escritório qualquer. Nunca foi isso que quis. Por que me sabotei tanto para chegar aqui?
Sempre quis ser livre, e agora estou presa dentro de mim, dentro dessa gaiola que é ser essa pessoa tão insignificante e desinteressante.
Eu não sei tocar, não sei escrever, não sei desenhar, não sei pintar direito, não sei editar, não sei outro idioma, não sei falar em público, não sei me maquiar, não sei fazer as unhas, não sei manter vínculo com pessoas, não sei fazer amizade, tenho carteira de habilitação ha 4 anos mas o medo faz com que eu nunca tenha dirigido. Eu não sei fazer nada, não fiz nada do que eu queria ter feito e das vezes que fiz, abandonei.
Num dia eu acordo com vontade de largar tudo e me mudar pra alguma cidade grande e tentar a vida no meio artistico, estudar cinema, edição... Então o dia acaba e vou dormir.
No outro dia acordo com vontade de largar tudo e passar um mês inteirinho no meio da mata, deixar toda essa culpa de ''não ser alguém'' aqui.
No outro dia acordo com vontade de ser guia de turismo, no outro acordo querendo ser bióloga, no outro quero estudar psicologia... e no outro só queria não ter acordado.
Eu gosto de mim, mas odeio o que me tornei. Morro de vergonha de mim, e isso faz com que eu me isole. Consequentemente levo uma vida bem solitária. A maioria dos dias só sinto desânimo. Quero mudar tudo, mas sinto que não tenho forças e nem tempo. Não sei como recomeçar, como me reconfigurar e parar de me sabotar. A cada dia quero fazer algo diferente e no dia seguinte já não sinto que sou capaz.
Inacreditável isso que me tornei.
3 comentários em “Minha ”Eu” criança morreria de decepção de mim”