A FALÁCIA DA TAL “MACONHA MEDICINAL”
A maconha é uma droga. Uma substância psicoativa de abuso que pode trazer impactos negativos para a saúde mental e física de quem a consome. Prejudica funções cognitivas, impacta a evolução do aprendizado, pode desencadear transtornos mais severos a saúde mental e causa modificação de comportamentos. Se o uso desta droga se inicia na adolescência e se prolonga para a vida adulta os prejuízos comprometerão a produtividade do indivíduo.
Quanto a questão do uso medicinal da maconha é IMPORTANTE esclarecer que o que pode ser utilizado como medicamento desta droga é apenas o Canabidiol (CBD),ou seja, apenas UMA única molécula das cerca de 500 que existem na maconha. Todas as utilizações como medicamento para o CBD já são reguladas pela Agência de regulação de drogas e alimentos dos EUA, o FDA ( Food and Drug Administration) , que tem publicado bastante material sobre Cannabis e canabidiol, devido ao “interesse significativo no desenvolvimento de terapias e outros produtos derivados” da planta no Estados Unidos. No entanto o FDA faz um grande alerta: “…algumas empresas estão comercializando produtos que contêm Cannabis e derivados que violam a Lei Federal de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos…e que podem colocar em risco a saúde e a segurança dos consumidores.”
Quanto aos MEDICAMENTOS a FDA aprovou o Epidiolex, que contém o CBD, para o tratamento de convulsões associadas à síndrome de Lennox-Gastaut ou à síndrome de Dravet em pacientes com 2 anos de idade ou mais. Significa que a FDA concluiu que esse medicamento específico é seguro e eficaz para o uso pretendido. A agência também aprovou Marinol e Syndros para usos terapêuticos nos Estados Unidos, incluindo o tratamento de anorexia associada à perda de peso em pacientes com AIDS. Marinol e Syndros incluem o ingrediente ativo dronabinol, um delta-9-tetra-hidrocanabinol sintético (THC).
Outro medicamento aprovado pela FDA, Cesamet, contém o ingrediente ativo nabilona, que possui uma estrutura química semelhante ao THC e é derivado sinteticamente.
A partir destas informações obtidas junto a FDA podemos observar que o uso medicinal de “ 2 moléculas da maconha ” o CBD e o THC são seguros apenas para casos de doenças bem específicas e para pacientes que não se beneficiam dos tratamentos convencionais existentes, o que são denominados como pacientes refratários.
Para contribuir ainda mais com o tema, é importante chamar a atenção dos leitores para um recente artigo publicado na JAMA Psychiatry, uma das revistas mais conceituadas sobre o assunto no mundo, que trouxe um grave alerta sobre a grau de potência do THC na cannabis. Uma concentração já é considerada alta se contiver mais de 10% de tetrahidrocanabinol, e já existem comprovações de casos de concentrações de até 25% de THC na maconha disponível no mercado.
Para este problema da maconha de alta potência existe uma relação dose – resposta para o surgimento de câncer de acordo com perfil de uso:
– Para uso moderado de maconha de alta potência (o risco dobra)
– Para um uso mais forte (aumenta 5 vezes)
– Para o uso diário ( *aumenta até 9 vezes)
* Neste caso é semelhante ao risco de câncer de pulmão em quem fuma 30 cigarros por dia.”
Ainda nesta mesma publicação também foi trazido como informação o fato de que “Os indivíduos com histórico familiar de psicose e aqueles que começam a usar cannabis na adolescência (o que é muito comum) parecem especialmente vulneráveis. Pacientes com diagnóstico de psicose que continuam usando cannabis têm um prognóstico pior do que aqueles que param de fazer uso, com episódios mais frequentes…”
Um outro esclarecimento que gostaria de realizar aqui neste texto se refere a inclusão na edição mais recente do manual da Associação de Psiquiatria Americana da síndrome de abstinência da maconha, o que reforça ainda mais a evidência científica para o fato de surgir com uso da maconha a dependência fisiológica. Com a publicação deste último manual DSM-V, contendo estes critérios diagnósticos, não é mais válida a persistência na crença de que não existe um quadro físico de abstinência da maconha. Desta maneira, torna-se incontestável que o uso da maconha ocasiona dependência sim.
Não sou alheio aos possíveis benefícios do CBD (canabidiol) para o uso medicinal e acredito que temos que avançar muito nesta linha de estudos, no entanto quero me posicionar em desacordo com a forma que este assunto tão importante está sendo conduzindo aqui em nosso país.
Quero chamar a atenção para o que está em andamento na Câmara Legislativa em Brasília. Os defensores da legalização da maconha no Brasil conseguiram trazer o Projeto de Lei 399/2015 para ser votado na SURDINA e assim conseguirem emplacar uma lei que autoriza o plantio da maconha aqui no Brasil. Para isto estão utilizando como justificativa a questão do óleo de CBD, que não é um remédio, para dar início ao processo de liberação da maconha e assim também atender uma outra demanda, que se refere a liberação para o uso recreacional da droga.
Estão utilizando como estratégia a narrativa da “maconha medicinal” de forma proposital para confundir a sociedade e criar uma aura humanista para sensibilizar os incautos e jogar uma fumaça danada nesta discussão.
Os reais interesses são ECONÔMICOS. Existe uma indústria canábica ávida para transformar o solo brasileiro em quintal para o agronegócio da maconha que atualmente fatura bilhões de dólares nos EUA. O lobby de empresas canadenses está atuando forte em Brasília para conseguir instalar aqui no Brasil o seu negócio A velha estratégia de ter “boi de piranha” está sendo utilizada de forma desumana e perversa, quando colocam na linha de frente de algumas propagandas, mães e crianças com o símbolo desta droga e buscam assim transformar esta substância psicoativa de abuso em uma panaceia de salvação para os doentes, passando a mensagem de alívio para a dor e o sofrimento de inocentes usados para ESCONDER A VORACIDADE CANIBALESCA DO CAPITAL que olha apenas para o resultado em cifra$ bilionárias que podem surgir como lucro da indústria da maconha, e que não tem nada a ver com altruísmo ou preocupação com o bem estar social. Soma-se a esta equação o grupo ideológico dos usuários da droga que veem nesta “brecha” a possibilidade de conseguirem enfim o seu tão sonhado passe livre para usar o seu cigarro de maconha de forma legal para fins “recreativos”. São também massa de manobra a serviço do SISTEMA ECONÔMICO a quem, eles próprios, tanto criticam como sendo a demonstração da perversidade do CAPITALISMO IMPERIALISTA.
Paradoxal, incoerente e inusitada, porém, muito bem articulado toda esta estratégia que no fim revelará claramente, caso obtenha êxito, aquilo que para mim está muito evidente: “…trata-se apenas de NEGÓCIO$$$$$$$…”
ONLY BUSINESS….FOLLOW THE MONEY!!!
Ivanildo de Andrade
Psicólogo, Especialista em Saúde Pública
Docente do Curso de Especialização em DQ pela UNIAD-UNIFESP
Referências
– JAMA Psychiatry Published online April 8, 2020 E1; © 2020 American Medical Association. All rights reserved. Downloaded From: https://jamanetwork.com/ by a Paris Sud University User on 04/08/2020
– https://kiai.med.br/transtornos-relacionados-a-cannabis-maconha-dsm-v/