Pesquisa da Unicamp identifica proteína que pode estar ligada à origem da esquizofrenia

Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou um possível mecanismo por trás da esquizofrenia, com foco na proteína hnRNP A1, que influencia diretamente a formação e manutenção da mielina uma substância essencial para a comunicação entre os neurônios. A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos mais eficazes para a doença.

A mielina funciona como uma capa protetora dos axônios, estruturas responsáveis pela condução dos impulsos nervosos. Quando essa proteção falha, a transmissão entre os neurônios fica comprometida. Isso está diretamente relacionado aos sintomas da esquizofrenia, como alterações cognitivas, emocionais e comportamentais. O estudo da Unicamp, publicado na revista Journal of Neurochemistry, mostra que alterações na proteína hnRNP A1 podem afetar a produção da mielina já nos estágios iniciais da formação do cérebro, durante a gestação.

Segundo o neurocientista Daniel Martins-de-Souza, coordenador da pesquisa, essa desregulação pode acontecer silenciosamente, ainda no útero, e só apresentar sintomas anos depois, entre os 16 e 25 anos de idade faixa etária em que geralmente a esquizofrenia começa a se manifestar. O estudo também observou que essa proteína tem papel importante no processamento do RNA mensageiro, influenciando quais proteínas são produzidas no cérebro e em que quantidade.

A equipe da Unicamp testou esse mecanismo em camundongos, provocando a perda de mielina com um composto chamado cuprizona. Após interromper a exposição ao composto, os animais iniciaram naturalmente a remielinização. No entanto, ao inibir a função da hnRNP A1, os cientistas notaram alterações cerebrais semelhantes às observadas em pacientes com esquizofrenia, mesmo sem mudanças comportamentais visíveis nos animais. Isso reforça a hipótese de que o distúrbio começa muito antes dos sintomas surgirem.

Embora ainda seja cedo para falar em cura, a pesquisa representa um avanço importante na compreensão do transtorno. Estima-se que metade dos pacientes com esquizofrenia não responde bem aos tratamentos disponíveis. Com isso, a identificação da hnRNP A1 como um novo alvo terapêutico pode abrir caminhos para intervenções mais precisas, capazes de preservar funções cognitivas e sociais que são gravemente afetadas pela doença.

A esquizofrenia é complexa, multifatorial e afeta profundamente a vida de milhões de pessoas. Entender melhor suas origens biológicas é fundamental para reduzir o sofrimento e o estigma que a cercam. Se você ou alguém próximo enfrenta dificuldades relacionadas à saúde mental, saiba que não está sozinho.

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