Diagnósticos em saúde mental – Riscos e reflexões

Recentemente me deparei com um manual de transtornos mentais e confesso ter me assustado. Posso afirmar que haviam transtornos para, praticamente, todas as pessoas do planeta. Não me cabe entrar em detalhes sobre tais transtornos, veracidade ou não deles. Mas, por minha conta e risco, trabalho com um pouco mais de cautela nesse aspecto. Há diagnósticos estruturais que a psicanálise nos ensina como fundamentais para o direcionamento do trabalho analítico, contudo, outros eu prefiro questionar, às vezes driblar, mas sempre consciente de que meu trabalho precisa ser eficaz, e talvez por isso os questiono.

A loucura foi diluída, a doença mental que antes era o foco da indústria farmacêutica passa a ser somente um aspecto, ou público alvo. Novas medicações = Novos transtornos. Há um perigo tanto no adoecimento generalizado quanto na medicalização excessiva. Por isso questionar é preciso.

Vale ressaltar o posicionamento do psiquiatra Allen Frances, chefe da força-tarefa que criou o DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) acerca da nova edição, o DSM-V:

“Minha motivação para assumir essa tarefa desagradável [criticar o DSM] é simples – evitar que o DSM-V promova uma inflação geral de diagnósticos que resultará na rotulagem errônea de milhões de pessoas como portadoras de transtorno mental. Rotular alguém com um diagnóstico impreciso de transtorno mental muitas vezes resulta em um tratamento desnecessário com medicamentos que podem ter efeitos colaterais muito prejudiciais”.(FRANCES, 2012) ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

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🎨 Obra (imagem): A Torre de Babel do pintor PIETER BRUEGEL. Para quem não sabe, segundo a Bíblia, as intervenções divinas na comunicação humana àqueles que viviam na Torre de Babel, gerou um caos, uma segregação, um adoecimento coletivo etc. Acredito que representa bem essa postagem.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

• Psicopatologia Lacaniana I: semiologia / organizadores Antônio Teixeira e Heloisa Caldas. Editora Autêntica, 2020.